Documentário
debate relação entre homossexualidade e nazismo
No documentário "Homens, heróis, gays
nazistas", o diretor alemão Rosa von Praunheim aborda a relação entre
homossexualidade e nazismo, cujo ideário e estética estão cada vez mais
presentes na cena gay atual.
'Homens, heróis, gays nazistas' e a
cultura da masculinidade
Em uma série de documentários realizada
recentemente, o célebre diretor gay alemão Rosa von Praunheim (Eu sou minha
própria mulher, 1992 e O Einstein do Sexo, 1999)
relata sobre testemunhas gays sobreviventes da era nazista.
Em Schwein gehabt – Joe Luga (Joe
Luga teve sorte), por exemplo, Von Praunheim conta a história do cantor Joe
Luga, que fazia shows travestido de mulher para os soldados alemães da frente
russa. Somente após a guerra, nos anos de 1950 e 1960, sua homossexualidade o
levou às prisões da antiga Alemanha Ocidental.
Mas é no longo documentário Männer, Helden,
Schwule Nazis (Homens, heróis, gays nazistas), disponível desde o ano
passado em DVD, que o diretor aborda a paradoxal relação entre a
homossexualidade e as idéias do radicalismo de direita, cuja estética está cada
vez mais presente na cena gay atual.
Homossexualidade e nazismo: é possível?
Alexander Schlesinger posa em frente
ao aeroporto de Tempelhof
Andre,
ex-ativista skinhead, fala sobre a "cultura da
masculinidade" em grupos de extrema direita. Botinas, cabeças raspadas e
suspensórios são símbolos de virilidade e radicalismo.
Bernd
Ewald Althaus, preso nos anos de 1990 por propagar "a mentira de
Auschwitz", explica suas convicções, enquanto é mostrado distribuindo panfletos
para festas gays em Berlim.
Alexander
Schlesinger pertence a um partido de extrema direita, cujo nome não foi citado.
Ele explica que seu chefe está informado de sua homossexualidade.
Os
três são gays assumidos e estão ou estiveram ligados ao movimento de extrema
direita. Em seu documentário, Von Praunheim tenta não somente mostrar o
paradoxo entre a homossexualidade e o neonazismo, mas também que a sexualidade
está presente em todos, até mesmo em nazistas.
Nazistas
de ontem e de hoje
A
homossexualidade de Ernst Röhm (c) foi tolerada durante anos por Hitler
Entre
os casos mais famosos, trazidos por Von Praunheim à tela, estão Ernst Röhm,
chefe da SA (Seção de Assalto), a tropa de segurança do partido de Hitler, e
Michael Kühnen, líder do proibido FAP (Partido Liberal dos Trabalhadores
Alemães).
Ernst
Röhm vivia sua homossexualidade de forma relativamente aberta. Ele quis abolir
o parágrafo 175 do Código penal, que até os anos de 1970 considerava a
homossexualidade crime na Alemanha.
Sua
homossexualidade era motivo de chacota da oposição social-democrata. Por uma
ameaça de golpe de Estado e por sua homossexualidade, Hitler o mandou fuzilar,
em 1934, juntamente com seus aliados. Cerca de 40 anos mais tarde surgia
Michael Kühnen, chefe do FAP e um dos mais importantes neonazistas da Alemanha.
Michael
Kühnen (c) morreu de aids
Em
1986, Kühnen publicou o manifesto Nacional-socialismo e Homossexualidade,
onde explicava, entre outros, que os homossexuais eram mais aptos a assumir
funções de chefia, já que não tinham família, podendo assim se dedicar
completamente à sua causa. Nas teorias de Kühnen, a mulher assumia uma função
biológica. Michael Kühnen morreu de aids em 1991, fato negado, assim como sua
homossexualidade, pela maioria dos seus seguidores.
Nem
Hitler nem Hess escaparam
Em Homens,
heróis, gays nazistas, nem o ditador Adolf Hitler e seu vice, Rudolph Hess,
escaparam da homossexualidade. Por sua feminilidade, Hess era chamado de
"senhorita Hess" por alguns companheiros de partido e só se casou
porque Hitler o obrigou, explica o documentário de Rosa von Praunheim.
No
livro O Segredo de Hitler, o historiador e professor da
Universidade de Bremen Lothar Machtan tenta provar que o ditador era
homossexual, usando como argumentos, entre outros, depoimentos de antigos
camaradas e o fato de Hitler só ter tido relações com mulheres aos 48 anos.
Esquerda
passiva, direita ativa
Para
Von Praunheim, a sexualidade está em todos
Quanto
ao avanço do neonazismo entre os homossexuais da atualidade, que muitas vezes
adotam a estética do radicalismo de extrema direita sem mesmo ter convicções
políticas neonazistas, o diretor de 65 anos explica, no final de seu filme, sua
visão atual dos movimentos de emancipação gays.
"Os
tempos de uma esquerda ativa já passaram, vivemos agora uma época de um
engajamento de direita."
Sempre
houve gays ligados a movimentos de extrema direita, por mais paradoxal que seja
esta posição, explica o diretor. Já que, a partir de 1935, os nazistas
acirraram ainda mais a perseguição aos homossexuais. Através da fome e
trabalhos forçados em campos de concentração, gays eram "reeducados"
como heterossexuais.
Perguntado por Rosa von Praunheim sobre o que
achava de homossexuais nazistas, o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, cujo
lema eleitoral foi "Sou gay e é bom assim", declarou no documentário:
"Nazistas, sejam eles homossexuais ou heterossexuais, eu
desconsidero".
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